sexta-feira, 7 de outubro de 2016

ADESSU mostra que é possível ter sucessão de juventude rural no semiárido pernambucano

Por Emanuela Castro / Comunicadora da Casa da Mulher do Nordeste

“Lembro do primeiro dia em que fomos facilitar o curso de GRH do Programa 1 Milhão de Cisternas. Uma senhora me perguntou quanto tempo ainda faltava para chegar a pessoa da capacitação. E respondi: Sou eu a pessoa que vai estar com vocês. E tive como resposta: Humrum.  A descrença é geral, mas sempre no final somos reconhecidos como sujeitos de conhecimento”, contou Raiany Diniz, de 21 anos, durante o intercâmbio de experiência sobre  juventude e sucessão rural,  na sede da ADESSU, em Triunfo.

A experiência que aconteceu na última quarta-feira (05) foi uma das seis experiências apresentadas à agricultores e agricultoras do Sertão e Agreste de Pernambuco, durante o Encontro Estadual da ASA-PE.  Com 20 anos de resistência e luta, a ADESSU se renova a cada ciclo com jovens atuantes e mobilizadores de direitos humanos, e na defesa da agroecologia. Iniciado por 6 jovens em 1990, a organização permanece com o corpo da coordenação formado por jovens que participam de formações durante os ciclos.

Apostam na difusão de conhecimentos no protagonismo juvenil, na comunicação através de programas de rádios, em intercâmbios, em ações nas Escolas, e na criação de áreas de referências em agroecologia. Para Dyovany Otaviano, presidente da Associação Cultural de Jovens Rurais do Riacho de Pedra, de Cumaru, no Agreste Setentrional, a experiência da ADESSU é inspiradora. “Eu achei interessante a implantação de áreas de referências, são estratégias de multiplicar o que está dando certo. Como a nossa associação também é formada por jovens e tem trabalho com agroecologia, é uma ótima ideia para nos fortalecer no território”, completou.

Para o jovem coordenador Elias Freire, 20 anos, é importante reconhecer o envolvimento e a parceria da ONG Centro Sabiá, a KNH e a Articulação do Semiárido Pernambucano, no fortalecimento da gestão, formação e incidência política na região. “O nosso incentivo a sucessão rural é para continuarmos na luta contra as cisternas de plásticos, contra o fechamento das escolas rurais, contra o uso do agrotóxico, e por uma vida digna no campo”, completou.

Com atuação nos municípios de Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde, e também em mais 7 municípios da região, conseguiram atender 350 crianças e 250 famílias.  Entre as ações, também foram protagonistas na construção de 2 mil tecnologias de acesso à água para consumo e produção, bem como a implementação de banco de sementes. “Começamos crianças, e passamos por todo o processo de formação e atuação na instituição. Se não fosse a ADESSU, não sei o que seria de mim hoje. Com certeza estaria em São Paulo, trabalhando como vendedora em alguma loja, como desejava meu pai. Isso era tudo que eu não queria. Gosto das minhas raízes. Meu lugar é aqui”, contou a coordenadora Raiany Diniz. 

Na sua história, a ADESSU acompanha os jovens e suas dinâmicas, por esse motivo, as temáticas se renovam a cada ano. Já tiveram projetos voltados para a música e o teatro, e nas formações a discussão da sexualidade e afetividade são prioridades. Outro momento importante foi a criação da Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar e Agroecológica (Coopcafa), em 2011. Coordenado por jovens, com mais de 38 cooperados, tem como objetivo escoar a produção agroecológica das famílias atendidas pela ADESSU, e ampliar o acesso à mercados. Hoje a Coopcafa agrega uma Unidade de Beneficiamento de produtos, e faz a distribuição de rapadura, açúcar mascavo e vários outros produtos derivados do açúcar.

Como já dizia o grande educador Paulo Freire sobre o significado de empoderamento – “a pessoa, grupo ou instituição empoderada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que a levam a evoluir e se fortalecer”.  Assim são os jovens da ADESSU, sempre atuando no presente.

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