Por Kátia Gonçalves – Comunicadora Popular do Cecor
“Se a gente não pode beber, plantar, alimentar os animais com
a água do Rio Pajeú, como vamos viver se só temos essa fonte de água?”,
questionou a agricultora Lucineide Lopes, do Assentamento Poço do Serrote,
município de Serra Talhada. Assim como
Lucineide, mais de 200 famílias que dependem de água potável estão vivendo esse
mesmo impasse.
O susto veio com a notícia do Secretário Executivo de Saúde
de Serra Talhada, Aron Araújo, quando, por meio dos meios de comunicação, vem
tentando alertar as pessoas para o NÃO uso das águas da barragem do Jazigo, que
desaguam no Rio Pajeú, e da barragem de Serrinha, que abastece mais de 450
comunidades rurais.
Segundo mostram os laudos das análises 1872.00/2015 e
1874.00/2015, enviados pelo Laboratório Central de Saúde Pública – Lacen, de
Recife, as águas das duas barragens estão contaminadas, podendo causar danos
nocivos aos consumidores, inclusive, câncer, alertou o secretário. As análises
apontaram uma quantidade significativa de Cilindrospermopsinas e Saxitoxinas.
Na barragem de Serrinha, por exemplo, o valor de Cilindrospermopsinas chegou a 2,35 pg/L,
quando o limite de quantificação do kit é 0,05pg/L. Já a quantidade de Saxitoxinas na barragem
de Jazigo chegou a 9,1/L, onde o
aceitável seria 0,02pg/L.
De acordo com o secretário, a intenção não é causar
transtornos, mas trabalhar na prevenção e o cuidado com a qualidade de vida das
pessoas. “As famílias que usavam a água da barragem de Serrinha já foram
conscientizadas sobre a limitação do uso daquela água, isso porque até os
peixes estão morrendo. Já com as famílias que consomem a água da barragem do
Jazigo, nossa equipe está fazendo um trabalho de informação sobre os riscos do
consumo à saúde humana e, só quando houver estrutura para auxiliá-las, iremos
interditar”, explicou Aron.
Ao saber dos riscos, os/as agricultores/as que vendem os
produtos na Feira Agroecológica de Serra Talhada estão preocupados com a
sobrevivência humana e financeira. De acordo com Luiz Moraes, do Assentamento
Poço do Serrote, que negocia na feira há quase 13 anos, todos dependem da renda
para se sustentar e o único reservatório de água para consumo humano não
garante a produção dos alimentos por muito tempo porque não está chovendo e a
tecnologia de convivência com o semiárido, implementada pelo Centro de Educação
Comunitária Rural (cecor), por meio dos programas da Articulação no Semiárido
Brasileiro (ASA), não é suficiente.
“Vamos utilizar a água da cisterna para garantir nossa participação na feira,
mas não sabemos até quando porque tem o consumo humano e dos animais”, lamentou
Luiz.
Segundo Aron Araújo, todas as famílias serão assistidas com
distribuição de água, através de carros pipa e poços artesianos. “Temos o maior
cuidado e respeito com essas pessoas. Queremos evitar danos piores. Nossa
função é apontar o problema e junto ao poder público solucionar da melhor
maneira possível, sem que prejudique ninguém, pelo contrário, ajuda-los a ter
uma vida digna no campo”, falou Aron.
Questionado sobre uma das possíveis causas da contaminação, o
secretário falou que a falta de saneamento básico é um dos motivos. “Quantas
cidades que dependem do Rio Pajeú, o principal do nosso Sertão, colocam seus
dejetos no rio? Quantos abatedores e grandes empresas desencadeiam seus lixos
no rio? Qual município tem esgotamento sanitário com tratamento?”, pontuou Aron
Araújo, finalizando que a única coisa que pode amenizar essa situação é a
chegada de muita chuva.
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