domingo, 19 de abril de 2015

Marcha das Margaridas luta por um projeto de sociedade que inclua as mulheres rurais

Por Sara Brito - Núcleo de Comunicação do Centro Sabiá

Para Verônica, a pauta da Marcha amadureceu
e foi ampliada nesses 15 anos
A Marcha das Margaridas é uma ampla organização das mulheres do campo e da floresta, promovida Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Federações, Sindicatos e organizações parceiras. Sua 5º edição acontece em 2015, nos dias 11 e 12 de agosto. O dia 11 representa a chegada das mulheres a Brasília, seguida por um processo de plenárias, oficinas temáticas, e momentos de intercâmbio entre as mulheres de várias regiões do país. O dia 12 é o da Marcha propriamente dita, e a tradicional entrega da pauta de reivindicações a Presidenta da República. Conversamos com Verônica Santana, secretária executiva do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste, que faz parte da coordenação da Marcha.

Quais são os temas que entrarão em pauta na Marcha das Margaridas de 2015?
Verônica Santana: A avaliação que fazemos da Marcha é que ela é um processo e nós permanecemos basicamente com os mesmos temas da Marcha passada, apenas atualizando a pauta de reivindicações. Terra, água, agroecologia, direitos sexuais e reprodutivos, a reforma política. O que avaliamos é que 2011 para cá temos alguns avanços, mas ainda precisamos avançar um pouco mais. Então temos que priorizar algumas questões que precisamos trazer nessa pauta da Marcha.

Como está sendo esse processo de preparação e organização para as mulheres em direção a Marcha?
VS: O lançamento oficial da Marcha foi em novembro último. Depois do lançamento oficial, que foi a nível nacional, todos os estados e as organizações fizeram lançamentos estaduais. Agora é um processo de mobilização e articulação das mulheres para a Marcha. Continuamos com o desafio de reunir 100 mil mulheres. Mas temos que mobilizar um número bem maior para que todas as mulheres que consigamos alcançar, mesmo que não participem diretamente da ação, mas através de suas comunidades, nos seus locais, saibam que está acontecendo esse grande movimento, que as mulheres estão reivindicando e quais são suas demandas. É um grande processo de mobilização no país inteiro, com as várias organizações que compõem a articulação da Marcha.

Quais foram as conquistas concretas impulsionadas pela Marcha?
VS: Temos como conquista da ação de 2011 da Marcha as Unidades Móveis de Combate à Violência, que todos os estados receberam, com a proposta de ir em todas as comunidades e discutir a violência, a Lei Maria da Penha. Elas vão nos espaços que as mulheres não têm acesso aos Centros de Referência das Mulheres, nem as delegacias, e levam um atendimento especializado, com psicólogos e advogados para as mulheres das comunidades rurais. A gente teve como conquista da Marcha de 2011 também o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff, de criação de uma política de Agroecologia, que foi a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). Estamos nos preparando esse ano para o segundo plano e isso nos desafia também na Marcha a trazer elementos para avançar. Mas tem outras coisas que a gente sabe que não avançou muito, como a questão do crédito, do fomento, a questão de as mulheres terem seu papel reconhecido na comercialização, a gente vê que ainda é um desafio e que as políticas públicas têm um papel importante nesse desafio.

O compromisso do Governo Federal com a PNAPO, assumido após a Marcha de 2011, mostra a importância dessa mobilização. Como você vê a força política que a Marcha das Margaridas tem?
VS: Eu vejo que é o ganho que nós temos com a Marcha. Se pegarmos a Constituição de 1988, que nós não éramos nem consideradas trabalhadoras rurais, que não tínhamos nem essa profissão reconhecida, e hoje a gente se torna a maior ação das mulheres rurais na América Latina, foi um grande avanço nesses anos de luta. A Marcha avança por ter essa grande mobilização, de pautar dentro do Governo, de pautar um projeto de sociedade não só para as mulheres rurais, mas um projeto de sociedade incluindo as mulheres e as mulheres rurais. Hoje, grandes organizações de mulheres e organizações mistas fazem parte da Marcha; a Marcha Mundial de Mulheres, a Articulação das Mulheres Brasileiras, o Movimento de Mulheres Quebradeiras do Coco Babaçu, a Coprofam, que é uma organização que reúne os países do Mercosul. O grande avanço da Marcha é dar visibilidade às mulheres rurais como um sujeito político, organizado, mas além de trazer as mulheres para o espaço público, o espaço da rua, da luta, também é essa grande unidade criada em torno das questões maiores das mulheres, e do nosso país, e reunindo vários movimentos. A Marcha hoje é uma expressão até internacional e consegue pautar também o Governo. É uma marca muito importante na história de luta das mulheres rurais.

Durante todos esses anos de Marcha das Margaridas, que acontece desde 2000, o que mudou?
VS: Houve um processo de amadurecimento e de ampliação da nossa pauta. Em 2003, a Marcha era contra a pobreza e a violência, esses eram os dois grandes marcos da nossa luta. Depois a gente foi ampliando o nosso olhar e a nossa visão sobre o que gera a violência e a pobreza, e não só trazer essas questões de causa, mas do que propomos como saída para essas questões. Fomos ampliando para liberdade, para democracia. Hoje a nossa reivindicação é bem mais ampla. Chegamos em 2011 com 153 pontos de reivindicação na nossa pauta da Marcha. Então hoje a pauta das Margaridas é um grande projeto de sociedade. E a partir de 2011 a gente traz muito forte a marcha se assumindo com uma perspectiva feminista e com uma perspectiva agroecológica como projeto para o espaço rural. Esses são fatos que mostram o nosso amadurecimento nesse processo.


Para saber mais sobre a Marcha das Magaridas: http://www.transformatoriomargaridas.org.br/

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