Por Sara Brito - Núcleo de Comunicação do Centro Sabiá
Para Verônica, a pauta da Marcha amadureceu e foi ampliada nesses 15 anos |
A Marcha das Margaridas é uma ampla organização
das mulheres do campo e da floresta, promovida Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Federações, Sindicatos e organizações
parceiras. Sua 5º edição acontece em 2015, nos dias 11 e 12 de agosto. O dia 11
representa a chegada das mulheres a Brasília, seguida por um processo de
plenárias, oficinas temáticas, e momentos de intercâmbio entre as mulheres de várias
regiões do país. O dia 12 é o da Marcha propriamente dita, e a tradicional entrega
da pauta de reivindicações a Presidenta da República. Conversamos com Verônica
Santana, secretária executiva do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do
Nordeste, que faz parte da coordenação da Marcha.
Quais são os temas que entrarão em pauta na Marcha das
Margaridas de 2015?
Verônica
Santana: A avaliação que fazemos da Marcha é que ela é um processo e nós
permanecemos basicamente com os mesmos temas da Marcha passada, apenas atualizando
a pauta de reivindicações. Terra, água, agroecologia, direitos sexuais e
reprodutivos, a reforma política. O que avaliamos é que 2011 para cá temos
alguns avanços, mas ainda precisamos avançar um pouco mais. Então temos que
priorizar algumas questões que precisamos trazer nessa pauta da Marcha.
Como está sendo esse processo de preparação e organização para as mulheres em
direção a Marcha?
VS: O
lançamento oficial da Marcha foi em novembro último. Depois do lançamento
oficial, que foi a nível nacional, todos os estados e as organizações fizeram
lançamentos estaduais. Agora é um processo de mobilização e articulação das
mulheres para a Marcha. Continuamos com o desafio de reunir 100 mil mulheres. Mas
temos que mobilizar um número bem maior para que todas as mulheres que
consigamos alcançar, mesmo que não participem diretamente da ação, mas através
de suas comunidades, nos seus locais, saibam que está acontecendo esse grande
movimento, que as mulheres estão reivindicando e quais são suas demandas. É um
grande processo de mobilização no país inteiro, com as várias organizações que
compõem a articulação da Marcha.
Quais foram as conquistas concretas
impulsionadas pela Marcha?
VS: Temos
como conquista da ação de 2011 da Marcha as Unidades Móveis de Combate à Violência,
que todos os estados receberam, com a proposta de ir em todas as comunidades e
discutir a violência, a Lei Maria da Penha. Elas vão nos espaços que as
mulheres não têm acesso aos Centros de Referência das Mulheres, nem as
delegacias, e levam um atendimento especializado, com psicólogos e advogados
para as mulheres das comunidades rurais. A gente teve como conquista da Marcha
de 2011 também o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff, de criação de uma
política de Agroecologia, que foi a Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO). Estamos nos preparando esse ano para o segundo plano
e isso nos desafia também na Marcha a trazer elementos para avançar. Mas tem
outras coisas que a gente sabe que não avançou muito, como a questão do
crédito, do fomento, a questão de as mulheres terem seu papel reconhecido na
comercialização, a gente vê que ainda é um desafio e que as políticas públicas
têm um papel importante nesse desafio.
O compromisso do Governo Federal com a
PNAPO, assumido após a Marcha de 2011, mostra a importância dessa mobilização.
Como você vê a força política que a Marcha das Margaridas tem?
VS: Eu
vejo que é o ganho que nós temos com a Marcha. Se pegarmos a Constituição de
1988, que nós não éramos nem consideradas trabalhadoras rurais, que não
tínhamos nem essa profissão reconhecida, e hoje a gente se torna a maior ação
das mulheres rurais na América Latina, foi um grande avanço nesses anos de
luta. A Marcha avança por ter essa grande mobilização, de pautar dentro do
Governo, de pautar um projeto de sociedade não só para as mulheres rurais, mas um
projeto de sociedade incluindo as mulheres e as mulheres rurais. Hoje, grandes
organizações de mulheres e organizações mistas fazem parte da Marcha; a Marcha
Mundial de Mulheres, a Articulação das Mulheres Brasileiras, o Movimento de
Mulheres Quebradeiras do Coco Babaçu, a Coprofam, que é uma organização que
reúne os países do Mercosul. O grande avanço da Marcha é dar visibilidade às
mulheres rurais como um sujeito político, organizado, mas além de trazer as
mulheres para o espaço público, o espaço da rua, da luta, também é essa grande
unidade criada em torno das questões maiores das mulheres, e do nosso país, e
reunindo vários movimentos. A Marcha hoje é uma expressão até internacional e
consegue pautar também o Governo. É uma marca muito importante na história de
luta das mulheres rurais.
Durante todos esses anos de Marcha das
Margaridas, que acontece desde 2000, o que mudou?
VS: Houve
um processo de amadurecimento e de ampliação da nossa pauta. Em 2003, a Marcha
era contra a pobreza e a violência, esses eram os dois grandes marcos da nossa
luta. Depois a gente foi ampliando o nosso olhar e a nossa visão sobre o que
gera a violência e a pobreza, e não só trazer essas questões de causa, mas do
que propomos como saída para essas questões. Fomos ampliando para liberdade,
para democracia. Hoje a nossa reivindicação é bem mais ampla. Chegamos em 2011
com 153 pontos de reivindicação na nossa pauta da Marcha. Então hoje a pauta
das Margaridas é um grande projeto de sociedade. E a partir de 2011 a gente
traz muito forte a marcha se assumindo com uma perspectiva feminista e com uma
perspectiva agroecológica como projeto para o espaço rural. Esses são fatos que
mostram o nosso amadurecimento nesse processo.
Para saber mais sobre a Marcha das Magaridas: http://www.transformatoriomargaridas.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário