terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Comunidades tradicionais discutem manejo d’água no Sertão pernambucano

Por Daniel Ferreira - Comunicador do Cecor

O Brasil caracteriza-se por sua multiplicidade sociocultural, expressada por cerca de 520 etnias, com modos próprios de conduzir sua vida e de entender o mundo. As chamadas populações e comunidades tradicionais correspondem a oito milhões de brasileiros, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e ciganos, os quais ocupam ¼ do território nacional e são excluídos do processo democrático e das políticas públicas. Parte dessa diversidade de povos está na formação do Semiárido brasileiro. São grupos de pessoas culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios tradicionais, além de recursos naturais, como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica.

Nesse sentido, a Articulação no Semiárido pernambucano (ASA-PE) tem levado as discussões de convivência com a região e de aplicação de tecnologias sociais para essas comunidades tradicionais, como os povos quilombolas e indígenas. Entre os dias 05, 06 e 07 deste mês, a equipe do Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor), organização que compõe a articulação estadual, ministrou a Oficina de Sistema Simplificado e Manejo de Água (Sisma) com as comunidades quilombolas e indígenas, do município de Itacuruba, Sertão do Submédio São Francisco.

De acordo com a zootecnista e licenciada em Ciências Agrárias, Eliane Vieira, que ministrou a oficina, a ideia da formação foi discutir o gerenciamento e o manejo com os recursos hídricos. “Foi um momento em que as comunidades trocaram experiências sobre formas de racionar água e conheceram tecnologias baratas para gerenciamento e captação d’água através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), como cisterna calçadão, cisterna de enxurrada, barragem subterrânea e barraginha, que estão sendo implantadas nessas localidades”, explicou Eliana.

Participaram do encontro lideranças quilombolas de Negro Gilu, Poço dos Cavalos e Ingazeira, além de representantes da comunidade indígena Pankarás. As discussões da formação foi a partir da realidade e experiência de cada um, respeitando as tradições e a cultura das localidades. Além do manejo com a água, foi debatido também a importância da diversidade de plantio de culturas, técnicas agroecológicas, fundo rotativo solidário, bancos de sementes, plantas medicinais e empoderamento na organização comunitária. O grupo ainda discutiu as potencialidades, como criação de caprinovinocultura e avicultura, e as fragilidades, como o acesso ao crédito.

Orgulhosa, Dona Lurdete mostra seu certificado de
participação (ao centro).
A agricultora da comunidade Pankarás, Maria de Lourdes Silva, mais conhecida como Lurdete, avaliou positivamente a oficina como estratégia de formação para convivência com a realidade semiárida. “Não é só no período de seca que temos que cuidar de racionar e preservar água, mas em qualquer parte do ano precisamos armazenar água para beber, cozinhar e plantar”, enfatiza.  Após a oficina, os agricultores e agricultoras conheceram uma experiência exitosa em aplicação de tecnologias socais e agricultura agroecológica.

Sisma – Faz parte da estratégia do P1+2 na formação e mobilização social para a convivência com o Semiárido, na perspectiva da segurança e soberania alimentar, através do manejo sustentável da terra e das águas.

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