segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O adeus do oitavo EnconASA

Delegações voltam para seus estados, após cinco dias de encontro

Por Daniel Ferreira - Comunicador do Cecor

Fernanda relata, em braile, impressões sobre o
EnconASA. | Foto: Daniel Ferreira
Passava das 14h, da sexta-feira (23/11), quando a delegação pernambucana de “mala e cuia” deixava o Sesc na cidade de Januária, no Semiárido mineiro, despedindo-se do oitavo EnconASA. Foram cinco dias de convivência, trocas de experiências, debates, oficinas, exposições e grandes aprendizados.

A noite caía, o relógio marcava 18 horas, e o ônibus da delegação ia cortando as estradas mineiras. Depois de algumas horas de viagem, uma quietação tomou conta de mim. Saí da poltrona e pus-me a andar no corredor do ônibus. Fui surpreendido com um pequeno barulho “teco-teco” que vinha da poltrona 40. Como jornalista curioso, perguntei o que a jovem Fernanda Antonia Bezerra, de 29 anos, estava a fazer naquele momento.  De imediato ela respondeu: - Estou escrevendo, fazendo alguns relatos do EnconASA. Dalí, surgiu uma longa e gostosa conversa por algumas horas.

Muito concentrada, Fernanda escrevia de mãos de um reglete e pulsão, uma espécie de caderno e lápis para a escrita em Braile. Sim, a jovem da comunidade de Bem Querer, do município de Jatobá, tem uma deficiência visual, chamada de “Anaurose de Lebe – Tipo 4”, uma degeneração da retina na parte central do olho. Deficiente visual? Longe de adjetivar sua deficiência. Limitação era o que não existia na vida de Fernanda.

De um sorriso largo, um jeito meigo e alegre, ela acabara de realizar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e já fazia projetos de cursar psicologia. Fernanda fazia jus ao nome da sua localidade, ela é bem quista por todos, além de ser uma líder comunitária, também ocupa parte do seu tempo nos afazeres da agricultura familiar e nas atividades da igreja. “Sou apaixonada por tudo que envolve a minha comunidade. Faço tudo para contribuir e ajudar no desenvolvimento de Bem Querer. A minha comunidade é uma parte de mim”, diz orgulhosa.

Em meio a um público de quase 700 pessoas que participaram no oitavo EnconASA, Fernanda poderia ter passado despercebida, pois nenhuma marca de deficiência está estampada na sua face ou no ser corpo, de tão natural e inclusiva ela trata sua limitação visual. Como todos os participantes do evento, ela estava ali para aprender, discutir e propor todo o universo e temáticas que cercam o nosso Semiárido brasileiro. Durante o evento, no final de cada dia, Fernanda ia para o quarto e começava a relatar em Braile o que tinha aprendido e discutido nas atividades do evento.

Perguntei o que ela tinha achado do EnconASA. De imediato, Fernanda respondeu: - “Foi tudo tão mágico, uma experiência muito rica para a minha vida. Aprendi que não é só construir cisternas com cimento e colocar uma placa, é uma tecnologia social que traz vida e dignidade para as pessoas do Semiárido. O Semiárido não é uma região que as pessoas são incapazes, é um lugar de potencialidades e diversidades. É tudo isso que dá esse encanto de viver e morar no Semiárido”.

O oitavo EnconASA foi uma celebração de todos os povos e da diversidade cultural do Semiárido, um espaço de discussões, uma escola de saberes e aprendizados em todos os instantes, até nas última horas da viagem Minas Gerais-Pernambuco. Conhecemos e compartilhamos experiências bem sucedidas, histórias da nossa gente, assim, como a história de vida da jovem Fernanda Antonia Bezerra, embebecida na transformação da região e protagonista da sua comunidade.

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