terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Agricultores/as pernambucanos/as conhecem experiência de beneficiamento de frutos do bioma caatinga com gestão cooperativista

Por Josiel Araújo - Comunicador do Polo Sindical

Neste mês de fevereiro, o Polo Sindical dos Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco realizou um intercâmbio interestadual na cidade de Uauá/BA, através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que tem o patrocínio da Petrobras. A atividade possibilitou que os/as agricultores/as conhecessem as experiências exitosas da Cooperativa Agropecuária familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), assim como promovesse a troca de saberes entre os visitantes e os anfitriões baianos. A ideia era explorar as técnicas de beneficiamento de frutos do bioma Caatinga com gestão cooperativista sustentável e solidário.


A primeira visita foi feita à comunidade Lages das Aroeiras, onde está localizada uma das 15 unidades de processamento de frutas da cooperativa. Atualmente, cinco agricultoras familiares desenvolvem suas atividades nesta unidade e são coordenadas por Dona Analice, umas das primeiras mulheres que abraçou o projeto.

Esta unidade beneficia, principalmente, o maracujá do mato e o umbu, a partir da fabricação de geleias, doces e compotas. O técnico Admilson explica que nestas unidades trabalham de 05 à 27 pessoas, mas que os homens ainda têm dificuldades de se envolverem na produção, por isso se dedicam ao plantio e colheita dos frutos no roçado. Dessa forma, as mulheres e os jovens se dividem nas etapas que exigem  paciência, cuidados especiais limpeza das panelas, entre outras. O projeto garante autonomia e renda para as mulheres que moram no campo. “O maior investimento da COOPERCUC está na formação humana”, acredita Admilson. 

Na oportunidade, os visitantes conheceram uma cisterna-enxurrada e a experiência de Dona Analice com os canteiros econômicos (utilizando lona e tubos PVC) e o uso de adubos orgânicos. “Depois desta cisterna nunca mais faltou as nossas verduras fresquinhas. Nos primeiros anos fiz muita coisa, dava a minha família e ainda vendia na comunidade. Aqui não usamos veneno em nada”, disse. Os/as agricultores/as também conheceram uma área com o plantio do maracujá do mato, que segundo Admilson, as mudas foram doadas pela Embrapa de Petrolina que é parceira da COOPERCUC.

Na sede da Associação Comunitária Agropastoril dos Pequenos Produtores de Lages das Aroeiras (ACAPPLA) houve um momento de debate sobre as experiências apresentadas e os visitantes puderam saber mais sobre a organização dos/as trabalhadores/as na região que começou na década de 80, os investimentos nas Unidades de Beneficiamento através do PROCUC (Programa Canudos – Uauá e Curaçá) criado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), sendo financiado todo o material pela Comunidade Europeia e a construção através de mutirão.

Com o apoio do programa PROCUC, em 2002, veio o sucesso com os produtos orgânicos das agricultoras que participaram da Feira Nacional dos Agricultores/as Familiares em Juazeiro-BA, e a partir daí, começaram a vender os produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). 

Atualmente, a COOPERCUC conta com 242 cooperados nos três municípios, em sua maioria mulheres, que produzem deliciosos doces, geleias, compotas, trabalhando a produção ecológica, economicamente viável, socialmente justa e solidária como complementação da renda familiar, contribuindo assim, para o fortalecimento da agricultura familiar e viabilizando o aproveitamento das frutas nativas da caatinga – umbu e maracujá do mato. 

Após uma deliciosa geleia de maracujá do mato oferecida por dona Analice, a delegação pernambucana se dirigiu à Unidade de Beneficiamento Matriz, localizada no centro da cidade de Uauá-BA, onde foi recebida por dona Benedita, Diretora financeira da Cooperativa. Ela apresentou as estruturas físicas da fábrica e a lojinha com os produtos orgânicos. Falou da fabricação, comercialização e distribuição dos produtos orgânicos e destacou a importância do envolvimento de todos os cooperados e trabalhadores/as no processo. “Quem tem que assumir a dianteira das organizações são os próprios agricultores/as e este é um dos motivos da COOPERCUC alcançar os êxitos desejados”, disse.

Para José Tenório, a Cooperativa “é um exemplo prático da dicotomia teoria x prática, pois, o mundo todo, o Brasil inteiro fala de sobrevivência e convivência com o Semiárido, já a COOPERCUC se preocupa em colocar em prática, aí pronto, se destaca e se torna esse sucesso todo!”, disse. Para José Osivan, Diretor do Polo Sindical, a COOPERCUC “é como uma luz que brilha pra todo nordeste”.

“Estou levando para a minha comunidade estes novos conhecimentos que irei repassar para os demais, como aproveitar as frutas da caatinga, principalmente, Umbú”, afirma a agricultora Maria Cícera, que mora em Inajá. A COOPERCUC é certificada pelo ECOCERT Brasil, e também no Exterior, vindo a receber o Certificado da Municipalidade de DUBAI pelo prêmio "Melhores Práticas". Através da linha Gravetero, a Cooperativa comercializa seus produtos nos mercados mais sofisticados do Brasil, por exemplo, na Rede Pão de Açúcar em São Paulo-SP e exporta para Itália, França e Áustria.

"Essa viagem foi importante porque nós vimos uma experiência que tem dado certo em uma região semiárida muito parecida com a nossa. A planta nativa é praticamente a mesma. Lá eles conseguiram avançar muito no campo da organização, da união, do cooperativismo e estão conseguindo resultados interessantes. É uma experiência exitosa, brilhante e uma grande lição pra gente, um exemplo vivo, prático e os/as companheiros/as de Pernambuco devem seguir este exemplo de Uauá, Canudos e Curaçá, na Bahia", finaliza o secretário executivo do Polo Sindical, José Osivan. 

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